GIRASSOL

  O Girassol é, sem qualquer dúvida, um outro "postal" de Viana. 

  Em qualquer época do ano, é o melhor café para se estar. O melhor café para se ler.

Olhar Viana do Castelo

  De novo, ninguém melhor que António Manuel Couto Viana para nos falar deste café, no seu começo, bem diferente do actual, excepto na arquitectura e na gente fina...

AQUELE GIRASSOL, DOS ANOS 30
O Chico Passos deu-lhe, no seu traço elegante,
Um toque d' Art Deco.
E plantou-o entre tílias. Pelo Estio escaldante,
Tem a frescura e graça duma flor.

No lado sul, jardim (depois, o Lima).
No lado norte, moradias e comércio.
De mesa para mesa, gira só gente fina.
Nas mesas, limonadas, groselhas, chás, cafés...

O rapaz que frequenta a Assembleia
Flârta co'a rapariga com quem dança
Ou nada ou joga ténis ou passeia
Além, de cá pra lá, nas audições da banda.

Mamãs fazem tricot ou mexericam.
Ainda se usam lorgnons, tão irritantes.
Papás, donos da terra, quereriam
Ser donos das tricanas que lhes passam diante.

Empregados (criados!) de borboleta preta,
Bandeja de metal, guardanapo no braço,
Curvam-se até ao chão, solícitos, correctos,
E dão roda de dom ao desdém do fidalgo.

Há muitos espanhóis, pois a Guerra Civil
Exilou na cidade famílias de alto rango.
Luzem já cigarettes em lábios feminis:
Viana civiliza-se, caramba!

Aos domingos à tarde, a burguesia tímida,
Comerciantes (filharada à frente),
Sentam-se ali também, pra discreta bebida
Depois do futebol, é evidente!

Circulam os soldados e as sopeiras.
E um par de magalas de mão dada
Pára, numa imensa pasmaceira,
A ver a animação distinta da esplanada.

No morto Outono, é sempre certa,
Ao pôr-do-dol febril, a enrubescer a barra,
A confidência de um poeta:
Um estopada literária!

Pelos Invernos, murcha o Girassol.
A chuva fria varre a erma colunata,
Enquanto, dentro, jogam dominó
Alguns velhos caturras com catarros.